Lençóis Maranhenses com crianças

Chegamos no sábado a tarde em São Luís e ficamos em um hotel no centro histórico (Grand São Luís). Almoçamos no hotel mesmo e fomos passear pela cidade. Estávamos todos muito cansados porque tínhamos ido a um aniversário na 6af a noite e acordamos bem cedo no sábado! E o Rodrigo foi chamado novamente no hospital... 2 madrugadas seguidas!

Assistimos a um belíssimo espetáculo de circo de rua no centro histórico e acabamos jantando um sanduíche no quarto mesmo, porque estávamos todos mega esbagaçados!

No 2o dia pela manhã um transfer nos buscou no hotel e iniciamos a aventura pelo interior do estado do Maranhão, num pacote feito pela agência "Venturas".

Fomos até Barreirinhas, a 260 km de São Luís, uma cidade de 38.000 habitantes que é a "base" do turismo de lençóis. Deixamos a mala grande na agência e levamos apenas uma mala de mão pequena e partimos de "voadeira" (uma lancha) no rio Preguiças para Caburé, uma vila de pescadores, numa estreita faixa de areia entre o mar e o rio Preguiças. 

Foi uma experiência muito diferente para os meninos porque na pousada havia apenas as camas, literalmente! Sem energia elétrica, sem TV, sem frigobar, sem chuveiro elétrico, sem sinal de celular e lógico, sem internet... O Lucas levou um susto e perguntou: "é só isso que tem aqui?" E outro detalhe: como estamos na baixa temporada éramos os únicos hóspedes da pousada!

Após o almoço um pulo no mar, um passeio de voadeira para ver a foz do rio, onde ele desagua no Oceano Atlântico e depois uma parada para ver a revoada dos guarás (um pássaro vermelho típico da região) e terminamos o dia brincando nas dunas de areia e tomando banho no rio. O gerador foi ligado por volta das 18:30 e desligado as 21:30. Após o jantar os meninos desmaiaram (bem antes da luz se apagar!) e dormiram por quase 12 horas seguidas e na manhã seguinte foi um custo acordá-los! Isso porque a preocupação do Daniel era caso ele acordasse de madrugada e estivesse tudo escuro! Só não posso  dizer que nem se mexeram na cama porque tinha (muuuuitos!) pernilongos no quarto e embora tivéssemos passado repelente eles fizeram a festa! Como não tinha ar condicionado a janela teve que dormir um pouco aberta e eles aproveitaram. No meio da madrugada o Lucas acordou coçando e chorando dizendo que queria ir embora para outro hotel que não tivesse pernilongo! Ainda bem que a lanterna do celular nos ajudou nessa hora!! Só fiquei imaginando se acontecesse algo mais sério, teríamos que ir procurar o pessoal da pousada (os quartos era chalés individuais), chamar a lancha (pelo rádio?) e ir pelo rio (de noite) de volta para a cidade... como ficamos "dependentes" da civilização... uma noite apenas e já deu aquele frio na barriga!

No 3o dia começamos o dia cedinho. Foi um custo acordar os meninos, apesar da claridade do quarto. Como não tem elegia elétrica os quartos da pousada são feitos com varias aberturas para iluminar. Eu e o Rodrigo saímos antes do quarto e demos uma caminhada por perto, achando que eles iam aparecer de pijamas, abraçados nos travesseirinhos perdidos pela pousada. Que nada! Continuaram dormindo profundamente! Após o (simples) café da manhã fomos andar de quadriciclo pela praia absolutamente deserta. Foi uma delícia! Até o Daniel dirigiu! Me chamou a atenção a quantidade de conchas na praia... Coisa inédita nas praias hoje em dia! Provavelmente por ser uma praia deserta… 

Depois fomos de voadeira visitar o farol, na vila (de pescadores) de Mandacaru, de 1940 e subimos seus 160 degraus para ver a vista lá de cima! Depois fomos a Vassouras, conhecida como "Pequenos Lençóis". Os meninos se divertiram muuuuito descendo as dunas escorregando, correndo, rolando e nadando nas lagoas (de água de chuva). Ainda de voadeira regressamos a Barreirinhas e fomos para o Porto Preguiças Resort, um imenso e charmoso resort (recomendo!).  Os meninos ficaram impressionados, provavelmente pela comparação com a pousada da noite anterior! A sensação foi estar de volta à civilização! Com sinal de celular! Mas internet... não!

No hotel tem uma olaria e eles tiveram a oportunidade de construir jarros de argila. Diversão garantida! E muita sujeira! Imagina a roupa quando acabaram...

A piscina do hotel tem chão de areia, super agradável! Nadaram muito!
E tem "pista" de bocha, o Daniel amou o jogo e se divertiu muito com o pai! E o Lucas, claro, resolveu jogar a bola para trás e caiu na cabeça dele! Foi um choro bem doído... Aquela bola é muito pesada!

No 4o dia fomos de voadeira até Tapuio, um povoado a beira do rio Preguiças e visitamos uma "fábrica" de farinha, da mandioca brava. O Seu Zequinha, de 75 anos, 8 filhos e muitos genros, noras e netas nos mostrou como a sua família trabalha, desde a mandioca trazida num carro de boi (nunca tinha visto!), descascar, moer, espremer o caldo (venenoso) no tipiti, peneirar, e torrar. Os meninos colocaram a mão na massa e ajudaram! O Lucas se mostrou muito habilidoso com a faca e descascou 3 mandicoas, sozinho, e sem se cortar! Espremeram, peneiraram e o Rodrigo ajudou a torrar! Foi difícil ir embora, queriam ficar mais! Compramos um pouco de farinha (Tio Rogério adora!) e continuamos de voadeira até uma cooperativa de artesãs do buriti. 

Vimos retirar a fibra do "olho" do buriti (Rodrigo se arriscou a fazer, mas não é fácil não!), tingir com corantes naturais e fazer bolsas. De lá saiu um presentinho para a D. Leni!

No passeio pelo rio a cena típica são as mulheres lavando  roupas acompanhada das crianças tomando banho de rio. Depois deixamos a voadeira e uma caminhonete 4x4 já nos aguardava a beira do rio. Andamos cerca de 30 min na carroceria, especialmente adaptada para o turismo e transporte de passageiros em estrada de areia, no meio do sertão nordestino, um verdadeiro "sacode sacode". Mas não preciso nem dizer que os meninos curtiram muito! Paramos para almoçar num povoado na entrada do parque dos lençóis, e comemos uma galinha cabidela, escolhida entre as que circulavam livremente pelos arredores. Um cochilo na rede para esperar o sol baixar um pouco e continuamos. 

E finalmente entramos nos Lençóis Maranhenses, uma imensa área (155 mil hectares) de dunas e lagoas. A caminhonete chega até um ponto e depois subimos uma imensa duna de areia, ainda coberta com vegetação e quando se chega ao topo a paisagem é absolutamente deslumbrante!!! Areia branquinha com lagoas azuis... Até onde o olho alcança (e muito além disso!). Os meninos ficaram loucos! Parecia que nunca tinham visto areia pela frente! Bem, na verdade naquela quantidade realmente nunca tinham visto!

Subiram no topo e desciam rolando até a água, inúmeras vezes! Acho que vou ficar tirando areia do cabelo e das dobrinhas deles por vários dias! E as lagoas são de água doce (água da chuva) e quentinha. Uma delícia! 

A areia é impressionante: branca, finíssima e não esquenta! Eu e o Rodrigo entramos na brincadeira e nos divertimos muito também! Até rolar duna abaixo o Rodrigo se animou (eu não!). No caminho de volta o Lucas literalmente desmaiou com aquele sacode sacode!

O Daniel agüentou firme e pôde aproveitar mais algumas experiências: cruzar alguns riachos de caminhonete e o rio Preguiças de balsa!

No 5o dia da viagem foi o aniversário do Lucas. Já amanheceu com o quarto todo enfeitado de balões! E a camareira do hotel preparou um mega bolo de toalhas de 4 andares para ele! Uma graça!

O dia amanheceu nublado e chuviscando fino... Era o nosso dia livre, e havia alguns programas que poderíamos ter feito mas acho que pelo tempo resolvemos aderir ao nome do hotel, do rio, do farol (tudo aqui de chama preguiça!) e curtir preguiça... Claro que os meninos quiseram voltar à olaria e brincar com barro! 

Andamos de caiaque pelo rio, curtimos a piscina do hotel e jogamos muito "bocha". Deu até para tirar um cochilo depois do almoço (único dia!)... E a noite após o jantar cantamos parabéns com bolo e tudo! 

No 6o dia fizemos check out cedo do Porto Preguiças Resort (adeus luxo!) e passamos em Barreirinhas para tentar sacar $, sem sucesso. Os caixas automáticos estavam sem $ e no único que estava "abastecido" havia uma fila imensa!  Andamos cerca de1h de asfalto e 2h de areia (sacudindo muuuuito) até Santo Amaro, na outra ponta de lençóis, uma cidadezinha de 5mil habitantes. Na estrada do caminho apenas alguns jegues e cabritos. Fomos para uma pousadinha (Pousada Água Doce), que tem energia elétrica, sinal de celular e wi-fi! Bom foi ver a reação dos meninos quando descobriram que tinha internet... Isso porque ainda nem tem email, facebook ou whatsapp…  

Visitamos novamente os lençóis, brincamos nas dunas e lagoas mas a chuva nos obrigou a retornar mais cedo! No início da noite fomos tomar um sorvete e caminhar pela praça principal, e brincar de contar os inúmeros (contamos mais de 30!) sapos que por ali estavam! E antes de dormir repetimos o ritual pernilongo de todas as noites: veneno no quarto no final do dia, repelente, ar condicionado para conseguirmos dormir cobertos e no dia seguinte, contar as picadas! Os meninos ficaram craques em matar os pernilongos na parede e até voando! 

No 7o dia, último dia no parque! Saímos de Santo Amaro com bagagem e tudo e fomos para mais um "rally" pelo sertão nordestino: muita estrada de areia, atravessando pequenos riachos de carro (as mochilas não podiam ficar no chão do carro porque entrava água!) e vendo apenas jegues, porcos e bodes pelo caminho. Fomos até Espigão, uma outra ponta do Parque dos Lençóis. A caminhonete nos levou até perto das dunas, mas tivemos que atravessar um riacho caminhando, com água na cintura! 

Subimos uma duna e mais uma deslumbrante vista nos aguardava! Desta vez com sol! Tudo ficou ainda mais bonito: a areia mais branca, e as lagoas mais azuis! 

E como despedida um paredão de duna de mais de 30 metros para descer e cair na lagoa! Os Lençóis são uma verdadeira paisagem cinematográfica! Aliás o guia nos contou que na semana passada participou de uma filmagem de um pessoal da Coréia! E que no próximo  mês irá ajudar no programa Largados e Pelados que será filmado nas dunas! 

Almoçamos em uma casa (isso mesmo, no quintal da casa de moradores locais) no povoado de Betânia, que serve refeições a turistas e comemos novamente galinha cabidela! Os meninos se divertiram muito correndo atrás dos pintinhos! E por incrível que pareça foi apenas neste rústico e simples local, perdido no meio do nada que encontramos outros turistas: um grupo do interior do RJ e outro do interior de SP. 

O restante da viagem foi apenas nós 4, o guia (Ermerson), o piloto da voadeira (Chico) ou o motorista da Toyota (Júnior)! Além de ser um pedaço ainda não muito explorado do Brasil estávamos na baixa temporada! E nosso roteiro organizado pela agência foi além do "tradicional", onde os turistas ficam apenas em Barreirinhas que tem uma boa infra estrutura. Fizemos um verdadeiro roteiro de aventura!

Após o almoço fizemos nosso último trajeto de sacode sacode (com 2 desmaiados deitados no nosso colo!) até um vilarejo chamado Sangue, localizado à beira da rodvia MA-402, onde um taxi nos aguardava para terminar o percurso (+ 3 hs!) até São Luís. Após 5 noites no Parque dos Lençóis, o retorno à civilização! Mas acho que trouxemos pelo menos meio quilo de areia nas roupas, na mala e no corpo! No caminho me chamou a atenção as inúmeras casas construídas de parede de barro e teto de buritis, mas com a antena parabólica ao lado!! Impressionante como a TV impregnou o mundo moderno. É hoje artigo básico de sobrevivência!!

O 8o dia em São Luís foi preenchido com um city-tour pelo centro histórico, uma visita ao mercado de artesanato, um pulo na piscina do hotel para refrescar e um fim de tarde na praia do Calhau, com direito a comer carangueijo (os meninos nos surpreenderam e adoraram! Ou gostaram foi da farra do ritual para comer?)

E essa foi a nossa aventura pelo interior do Maranhão! Muitas histórias para contar e muito convívio em família. Situações totalmente diferentes da nossa realidade! Ainda mais para 2 meninos criados em apartamentos no centro de uma grande cidade! Foi com certeza a experiência mais "rústica" que experimentamos em família! Mais até do que a viagem que fizemos para a floresta Amazônica há 2 anos! 


Recomendo a todos os que gostam de aventura! Ou seja, todos os garotos! Eu, como sou mãe de 2 e casada com um eterno aventureiro tenho que acompanhar! Mas aviso: tem que ter muita disposição! Até a próxima viagem...